Dissertação

Comunicação, consumo e envelhecimento prêt-à-porter: Jane Fonda e o ideal de envelhecimento bem sucedido

Kareen Regina Terenzzo

Resumo

Minha dissertação de mestrado olha para a estetização da velhice na comunicação e no consumo. Para mostrar como isso ocorre, estudei a empresária e celebridade Jane Fonda, que se coloca como porta-voz e modelo de um envelhecimento bem-sucedido – “o terceiro ato da vida”. Para Fonda, trata-se de uma segunda vida adulta que, segundo ela, estaria “disponível para todas as pessoas”, e para tanto, propõe uma nova metáfora acerca do envelhecimento: a da escada. Nessa escada (- que há de se subir “a de eterno” - configura-se um modelo de “envelhecer com sucesso” fundamentado no “eu como projeto”, no “eu empreendedor”, e desconsidera as diversidades existentes. A pesquisa nasceu a partir da observação de imagens de mulheres mais velhas na mídia, que de um modo geral, têm se apresentado como narrativas de imagens-estilo- de-vida - são modelos, prescrições e exemplos sobre como envelhecer de uma forma considerada bem-sucedida. De um modo irônico, nomeei essas narrativas como “o hype do envelhecimento”: um efusivo movimento sobre o envelhecimento, que parece “mais um assunto na moda” do que uma preocupação acerca da velhice ou com as pessoas mais velhas. O problema dessas narrativas é que elas tendem a construir e fortalecer um modelo de envelhecimento esteticamente arrojado e fundamentado, predominantemente, na aparência jovem, no condicionamento físico, na vida ativa / produtiva e na felicidade permanente.

Aplicação

A importância dessa reflexão para nós, enquanto sociedade: somos impactadas/os diariamente pela comunicação de imagens e enunciados que reforçam padrões de consumo, como o de envelhecer adequadamente. Trata-se de uma convocação para constante melhoria do indivíduo, é uma “corrida contra o tempo” para que não se entre na obsolescência. Isso nos impede ou limita a pensar o envelhecimento de forma coletiva e social. No caso das mulheres, estas sofrem ainda do duplo preconceito – o sexismo/machismo e o idadismo, por isso minha pesquisa tem como foco o envelhecimento feminino. Parte dos resultados: observei que a aceitação do envelhecimento é pautada no mote “envelheça, graciosamente, sem parecer velha”. Para ser alguém que envelheceu “com sucesso” há que se ser elegante, estar na moda, ser ativa, saber se reinventar, ser divertida, “alto-astral” e ativa sexualmente. Para tanto, é necessário adotar certas condutas na autogestão para servir de exemplos positivos e assim justificar a terceira idade como um estilo de vida. Fazendo uso do campo da moda, eu chamei esse modelo de envelhecimento de prêt-à-porter: um “modelo de envelhecimento” que se apresenta como se pudesse ser comprado como uma roupa – de uma arara ou vitrine – e servisse a todas as mulheres. O problema é que nem todas as pessoas podem arcar com os custos desse “envelhecer com sucesso”. Benefícios dessas reflexões: como pensar o envelhecimento se a todo momento são produzidas e reproduzidas imagens na mídia que promovem a juventude como valor, especialmente, para as mulheres? A partir de minha pesquisa e a continuidade de meus estudos, acredito que reúno dados e repertório para construção de uma linguagem inclusiva de comunicação - textual e visual - que abrace as diversidades existentes.